segunda-feira, 30 de maio de 2011

FLOX

O projeto Flox foi desenvolvido há alguns anos por mim e os camaradas Santtos e Rodrigo. Foi feito para participar-mos de um concurso de HQ, mas infelizmente não ganhamos. No entanto o projeto ficou muito bom artisticamente para ficar engavetado por tanto tempo, por isso vou lançar aqui de duas em duas partes para vocês poderem apreciar e refletir o nosso trabalho.
O nosso tema para esse livro gráfico foi a Evolução. Conceito arbitrário e constante em todas as diversas atividades humanas. Será que a vida é uma constante escalada? E se assim for, quando teremos certeza de que um novo degrau foi alcançado? O que delimita estes degraus? Associado ao círculo cromático, a Flox trás oito contos refletindo estes possíveis estágios da evolução, numa linguagem ousada em que mistura a narrativa visual com a linguagem poética.


O primeiro conto acontece na África subsarina, numa tribo Zulu séculos atrás, a arte é do Santtos em cima da minha concepção de storyboard e as poesias são todas do Rodrigo. O segundo conto é na Holanda atual, essa já é desenhada por mim com as pinturas do Santtos.






























terça-feira, 10 de maio de 2011

Sobre como os ignorantes não sentiriam nada diante de um Monet



As 10h47
Ela é linda, tem seus 30 e poucos anos, mas não se aparenta. È bela e não se precisa de muito para fazer-se assim, mas ela insiste em passar dezenas de minutos na frente do espelho retocando a maquiagem, escolhendo a sua melhor roupa e o seu batom mais brilhante.

As 11h30
Esta pronta, e sua pequena filha também. Ela coloca a mochilinha nas costas de sua filha e ambas caminham para a escolinha. As calçadas não são passarelas e os transeuntes não são fotógrafos, mas o que isso importa, ela se sente bela, sensual e desejada.

As 12h11
Já esta de volta a casa. Desfaz-se toda a pintura, como se um removedor tivesse sido jogado em uma tela pintada por Monet.
O pó, o carpete manchado, a louça suja do almoço, a novela, a faxina e a ligação do marido durante o dia que nunca acontece é o removedor jogado em sua vida, borrando toda a sua beleza e revelando toda a sua solidão.

As 17h43
O conformismo e a espera. Volta á frente do espelho, escolhe a sua melhor roupa, enfeita com um novo penteado o seu cabelo e já esta pronta para buscar a sua filha. Algumas mulheres fazem comentários invejosos sobre ela, alguns homens fazem comentários libidinosos sobre ela, outros ainda sentem-se tentados a possui-la, porém ela pensa consigo mesma: “Pertenço apenas a um homem, e a ele sou devotado”.

As 18h29
O fogão a chama. As verduras, as carnes ensangüentadas e as panelas fazem brotar de sua pele antes tão macia e perfumada o suor imaculado e salgado. Correndo contra o tempo ela se banha, colhe as roupas do varal, escolhe o seu melhor vestido, passa a sua melhor colônia, a de jasmins, coloca a filha na cama e conta uma história até ela adormecer, arruma os pratos na mesa e aguarda zapeando a tv o seu marido.

As 21h47
O barulho do molho de chaves tilintando atrás da porta anuncia a chegada do seu amado, que com um beijo mal dado em sua face se joga no sofá e avisa que não irá jantar porque bebeu e comeu petiscos no bar com seus amigos. Sentada sozinha a mesa ela inicia uma conversa. Fala sobre seu dia, sobre as travessuras de sua filhinha, mas logo é interrompida pelo roncar estridente que ecoa da sala.

As 22h10
Ela lava a pouca louça do jantar e guarda o que sobrou no refrigerador. Descalça o seu homem e desabotoa a sua camisa. Com algum esforço o ajuda a chegar na cama e lhe da um beijo carinhoso no rosto desejando uma boa noite.
Pouco tempo depois retira suavemente o seu vestido, sua mão desliza suavemente pelos contornos de seu corpo, por minutos ela observa o seu fronte nu em frente ao espelho, procura falhas, mas não encontra, ninguém encontraria.

As 22h31
Deita o seu corpo cansado ao lado do corpo inerte e esboça um sorriso, imaginado que no amanhã, dentro da sua rotina terá uma nova chance de fazer-se útil e querida a todos. E mais uma vez buscará forças para viver. Viver?

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Cronicas Sertanejas

Elis Regina foi uma intérprete que como muitos cantavam com a alma e que de tal maneira conseguia transmitir toda a carga emocional necessária para a historia contada(ou cantada). Ouvir a sua versão de romaria foi comovente pra mim, me fez viajar diretamente para o sertão e imaginar a vida das pessoa pobres e altamente religiosas.

O impacto foi tanto que eu resolvi fazer uma versão em quadrinhos dela, algo inusitado entre os meus quadrinhos que até então eram baseadas nos seres urbanos das grandes metrópoles. Outra coisa que torna esta arte especial é o fato de ser colorida algo raro já que tenho preferência pelo preto e branco. Espero que gostem e comentem.






quarta-feira, 4 de maio de 2011

QUESTIONANDO VALORES

Minha querida Amanda é uma garotinha especial por muitos motivos, entre eles, a capacidade de ir contra a rotina e de questioná-la, e isso com apenas 3 anos.

Um  ex.: pois em casa ela e seu irmão Henrique possuem copos específicos para tomar leite. O dela é vermelho e o dele é verde, um dia ela se cansou de tomar no vermelho e quis o verde do Henrique, talvez simplesmente por não aceitar a mesmice ou apenas um ato de rebeldia contra o que nos é imposto a todo dia. Só que recusei a troca, já que a quantidade que ele tomava era maior que o dela e o Henrique por sua vez não gostaria da idéia e em meio a correria de preparos para a escola das crianças e o nosso trabalho não liguei para os seus apelos chorosos e dei o vermelho mesmo.

Mais tarde essa situação me fez cair numa reflexão sobre como nos acostumamos com pequenos detalhes do cotidiano que transformados em rotinas nos fazem virar maquinas não pensantes e programadas. E que por isso deixamos de experimentar, observar, refletir e sentir situações que poderiam nos dar outras perspectivas da vida.
Pois no outro dia, sem ela pedir eu troquei os copos e dei o verde do Henrique para ela, a gatinha ficou com aquela felicidade infantil estampada no rosto, um sorriso lindo que se soubesse que o ganharia no dia anterior eu já teria trocado, mas o Henrique não gostou muito da idéia pra falar a verdade.

As crianças normalmente nos  ensinam muito sobre  VIDA, mas sempre estamos tão preocupados com os nossos aborrecimentos de adultos que acabamos não percebendo.